Aceitar a natureza erótica do ser humano é o primeiro passo para ser feliz na cama e fora dela.
Nunca se falou tanto em bem-estar. Seja em relação à saúde, ao trabalho, à família - todos querem alcançar o equilíbrio. Na ânsia de se sentirem plenas, amadas, aceitas, à vontade na própria pele, as pessoas se deixam seduzir por várias maneiras de buscar satisfação. É difícil pensar que a resposta esteja na sexualidade. Mas está. Não que o sexo seja a cura milagrosa para todos os males. Pelo contrário. Da forma como o entendemos, é o início de muitos problemas.
O sexo está em toda parte: novela das seis, música, cinema, outdoors de cerveja. Ninguém agüenta mais. Está no ar um certo cansaço - para não dizer desgosto com o mundo e a si mesmo por meio de sensações captadas pela audição, tato, paladar, visão, olfato. Não é isso que vemos. Temos, sim um mundo excessivamente pornográfico, de imagens que reduzem o sexo a penetrações, peitos e bundas, bocas e gemidos. Parece que devemos nos enquadrar nessa noção de um mero encontro de corpos em movimentos sincronizados e reproduzir o que todos fazem em vez de sentir e pensar a própria sexualidade.
Conquistamos o direito de falar abertamente do tema, mas não somos livres para aproveitá-lo como bem entendermos. Temos o poder de alugar um vídeo pornô, fazer piadas sacanas, mas nos sentimos culpados, constrangidos quando temos a oportunidade de desfrutar do sexo com originalidade e naturalidade. É fato que religião, cultura, educação abafam e tentam reprimir a energia chamada sexo. O resultado são distúrbios que se manifestam por meio de perversão, síndrome do pânico, compulsão alimentar, tabagismo, alcoolismo, ciúme, TPM exagerada. O mau uso da energia sexual é uma violência interior.
Por que deixamos isso ocorrer? Porque o sexo é uma atividade animal, no melhor sentido da palavra. Podemos romantizá-lo, incrementá-lo, fantasiá-lo, ele permanece animal. Por essa razão muitos não conseguem desfrutá-lo. Seria preciso desligar o lado racional, abrir mão do que nos enche de orgulho e nos diferencia dos outros seres vivos. Quando aceitamos essa natureza, virão o crescimento e o prazer tão desejados. Para isso, temos que permitir que os sentidos entrem em cena e evoquem partes do cérebro que não têm a ver com o conhecimento objetivo, mas com o instinto, a memória e sensações. Precisamos exercer a inteligência erótica. O erotismo abre caminho para o autoconhecimento. Liberdade é contatar a intimidade, entender os próprios desejos sem qualquer tipo de julgamento moral. Esqueça tudo o que ouviu, estudos ou o que foi imposto socialmente em relação ao sexo. Identifique o que seu corpo pede, quais são seus anseios. Deixe-se tomar pela energia sexual. Deixá-la fluir nos faz mais feliz.
Sexo é vida. Não é um fim em si mesmo, não acaba quando os corpos se separam. É o início de um insight profundo para o bem-estar. A grande revolução é conseguir trazer harmonia ao ato sexual, vir a respeitá-lo como porta para compreendermos a linguagem da alma. Descobrir o mundo dos prazeres é um caminho largo, de espiritualidade independente, de renovação. Há apenas dois caminhos: o da ignorância dolorida ou o da compreensão libertadora. Enquanto estivermos cegos para o erotismo, andaremos em círculos. Enquanto fomos escravos do sexo, sem conhecê-lo, pouca mudança poderá ocorrer. O conhecimento em si é poder e o conhecimento do sexo é um poder ainda maior.
(Fonte: Revista Claudia - nº2 Ano 42 - Fevereiro 2003.)
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Um abraço, Muita paz, luz e harmonia. Stella Alves e equipe.
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